quinta-feira, 13 de julho de 2017

Fabio Gouveia e equipe Atowinj no swell histórico na Laje da Jagua



Foram várias investidas nos últimos anos pra que eu visse a Laje da Jaguaruna funcionar de jeito. É tudo muito rápido quando Thiago Jacaré nos informa sobre o swell que chega com bom tamanho, ótimo período e ventos calmos. “Primão, a laje vai funcionar de gala nesse próximo swell”, disse ele em uma mensagem via zap zap.

Thiago Jacaré Foto Rafa Shot
Com o litoral catarinense bastante recortado, tendo assim uma grande quantidade de picos, fiquei me balançando e dividido entre pegar a laje e outras ondas que também não costumam quebrar com tanta frequência. Mas, aos 45 do segundo tempo, decidi pela laje em função da previsão de ventos fracos e pela possibilidade de estar perfeito, já que, por se tratar de uma onda a 5.1 km da costa, é sempre uma incógnita. Zarpei com Luciano Burin às 9:30h da noite e no meio do caminho fizemos uma paragem na BR-101, nas proximidades da praia do Sonho, para pegarmos o fotógrafo Luiz Reis. 
Fabio Gouveia Foto Luis Reis

Meia noite e meia já estávamos embaixo do cobertor e escutando o barulho das ondas, o que foi confirmado ao raiar do sol naquela sexta-feira (28/4). Como de praxe, a movimentação era grande na base da Atow Inj. Aliás, maior que o normal, umas 20 cabeças aprontavam-se rapidamente para adentrar ao beach break com series de 7 a 8 pés. Os jets já estavam preparados quando recebemos o aviso de que a embarcação que locamos, proveniente de Laguna, já está aportando no outside. 

Varar o beach break da Jagua em dias grandes não é tão simples requer perícia dos pilotos dos jets. Adentrei com minha gun 10’4” no sled do legend João Capilé. O bicho acelerou bastante e quase solto as alças antes de chegar ao barco devido ao esforço físico. Bom, não estou tão preparado assim, mas o fato mostra o quão é puxado esse lance de onda grande envolvendo máquinas, gunzeiras, etc. Nem tinha chegado na laje e já estava cansado. E não apenas eu embarquei na lancha com esse relato, vários outros brothers também disseram. Lancha lotada, jets com suas duplas e partimos pro meio do mar. 

Fabio Gouveia Foto Rafa Shot
No trajeto, já dava pra ver o tamanho da ondulação e a laje não parava de espumar. "Issa", essa empreitada vai se concretizar… Tão logo chegamos já pulamos do barco e começamos a remar. Fui na frente e logo Luciano Burin veio atrás. Paulo Moura, que já havia surfado algumas vezes na laje no passado, investiu nesse swell e também pulou na água. Aliás, mais dois nomes conhecidos do surfe catarinense e nacional estavam presentes: Marco Polo, em sua primeira empreitada, e Guilherme Ferreira. 

Ir pela primeira vez ao pico em condições excelentes é uma baita de uma sorte. Desfrutou dessa também o catarinense Vinícius Dos Santos e o gaúcho Lucas De Nardi, ambos recém-chegados de temporada havaiana. E a turma ia entrando com os locais João Baiuka e Fabiano Tissot, que estava munido de um SUP 11 pés. Aliás, esses dois, juntamente com Thiago Jacaré e André Paulista, são minhas referências neste pico. Nas vezes anteriores, procurei sempre prestar atenção no posicionamento dessa turma e acabei tendo finalmente o dia pra botar em prática esse aprendizado. 

Alguns outros surfistas que conheci nessa session completaram o lineup na remada e algumas duplas de tow in ficaram se revezando. Jacaré puxou Luis Casagrande em algumas, Carlos Pirí puxou o enigmático Pepéu de Laguna em outras e Capilé… bom, não lembro quem ele rebocava, mas no momento em que Thiago Jacaré o puxou em algumas ondas, a regra era a seguinte: sai da frente, meu filho (risos)! 

As séries estavam grandes, cerca de 8 a 10 pés com umas de 12 e outras maiores. O posicionamento era bem difícil, mas, pelo fato de ter uma galera no pico, dava pra se encontrar ao prestar bastante atenção, principalmente com a leve correnteza que nos tirava rumo ao norte. Tow e remada ao mesmo tempo é complicado, mas tínhamos preferência, e em alguma grandes que vieram, quem tava rebocado abria passagem. É bem verdade que houve situações de risco, mas em todas as vezes, com controle. 

Tissot é sempre o último da fila, o mais deep possível. Quando ele rema com aquela jamanta, sai de baixo. O bicho veio em uma gigante, devia ter mais de 12 pés. Quando fez a curva na base, sua 11 pés pareceu até menor. Que visual, que adrenalina… Mais duas ondas grandes entraram e em uma delas foi Luciano Burin, com uma 9’6 que lhe emprestei. “Vai lá, fera. Essa aí tem 4 capas de fibra em cima e 4 embaixo. Pode botar pra baixo que é difícil quebrar ao meio”. E nessa ele se soltou na session até tomar uma série na cabeça e conhecer o power da Jagua.  

Esperei por um tempo, quando uma da série veio linda e grande. Apontei minha 10’4 pra beira e remei forte. Drop atrasado, brisa de terral na cara e adrenalina a mil. Completei o drop e ao contornar a parede dei mais outro drop. Que delícia, a ondulação de sul fizera a parede mais longa do que das outras vezes que havia ido ali. Escuto a galera vibrar e quando olho pra trás Paulo Moura vinha em uma bomba. E as séries nesse momento estavam constantes, tendo João Baikuka surfado uma atrás da outra. Ô bichinho pra ter gás! Pilha da bexiga! Marco Polo também desceu uma irada, assim como Lucas, e ambos voltam para o outside com um sorriso contagiante. 

A turma posicionada clicando tudo. Os fotógrafos Lucas Barnis e Luiz Reis, do barco, e Rafa Shot do jet. E a cada momento iam revezando os ângulos. Para esse swell, o produtor Carlos Sanfelice mandou um enviado especial pra documentar. O videomaker Tessari gravava atento para o Canal Off e se mostrou à vontade, pois normalmente os marinheiros de primeira viagem ali enjoam demasiado quando expostos a longo períodos na embarcação. Se ficar ali já é difícil, imagine com um olho no view finder? Dá pra mim, não, prefiro mesmo é ficar na água. 

A maior do dia devia ter uns 15 pés e todos tomaram. Ainda dei sorte de estar no rabo da onda e soltei a prancha apenas pra não correr o risco de voltar com o lip. Caramba, pura adrenalina, parecíamos estar no Hawaii. Nessa veio o João Capilé costurando a parede de forma brilhante. Aquele ali tem a manha. A esquerda estava de gala e por isso nem cogitamos a direita, que na real é mais adequada para o tow. Por lá, algumas duplas se revezavam: Arno Phelippe, Marcos Moraes e com certeza outros devem ter feito a mala também. 

Havíamos entrado na água umas 9 da manhã, e na hora da pausa, próximo ao meio-dia, estava um espetáculo da natureza. Séries constantes levavam a galera ao delírio. Vários brothers que se revezavam nos swells com a equipe da Atow inj pegaram várias, infelizmente não decorei os nomes de todos, pois tudo foi muito intenso, mas aqui vão alguns: Vitor Ronsoni, Rafael Jeremias, Bernardo Mendonça, Fabio Mia e Gustavo Fabiano. 

Como as ondas não paravam, voltei pro mar afim de aproveitar ao máximo. Thiago Jacaré se posiciona mais ao fundo e mais pro lado quando uma bomba vem. No momento que dropei, vi que não ia conseguir passar, quando Jacaré despenca a poucos metros à minha frente. O cara capota feio e depois vai até a lancha de apoio meio atordoado. Fabiano Tissot, que havia perdido o remo de seu SUP, foi pra remada. Uma gun 10’4 linda não resistiu à força da Jagua e partiu ao meio. Não sei com quem estava naquele momento, pois a rotatividade de equipamentos ali foi uma constante. 

João Baiuka Fabio Gouveia Foto Rafa Shot

Vinicius dos Santos desce a sua grande e agradece muito pela oportunidade. Ô moleque sangue bom! Sãs e salvos, por volta das 15:30 rumamos de volta, até porque também alguns jets já estavam com gasolina na reserva. No beach break, as ondas continuavam grandes, e depois de colocar as máquinas nas carretas um churrasco preparado pelo fiel escudeiro da Atow Inj, “Gaivira”, já estava à espera. 


 Pense numa turma alegre e feliz? Em meio a geladas e lascos de carne, a turma ia vendo imagens de outro fotografo que também estava na session, mas que infelizmente não também não lembro seu nome. Como disse, tudo foi muito intenso e num piscar de olhos já estava retornando à casa. O sono foi carregado de imagens e creio que todos tiveram a mesma sensação. Que dia, que session! 

Agradecimentos à turma da Atow Inj que, também apoiada pelo Projectmorona, não cansa de incentivar o big surf . Até o próximo!

Sessão na Jagua


Pedra  Foto: James Thisted.
Thiago Jacaré  Foto: James Thisted.
O verão, apesar de maravilhoso em termos da ótima temperatura da água no Sul do Brasil, vinha em banho maria no tamanho das ondas, mas na virada da estação dois swells marcharam com boa consistência. O do começo desta semana teve proporções avantajadas.
À convite da turma da Atowinj, através de Thiago Jacaré e João Baiuka, me piquei pra Jaguaruna na companhia de Luciano Burin, diretor do documentário “A Pedra e O Farol”, e dos fotógrafos videomakers James Thisted e Renato Tinoco. A expectativa era boa quando no domingo (19) à noite nos encontramos com o ex-atleta do WCT Rodrigo Dornelles e o big rider Fabiano Tissot.

Com o sono curto, e o despertar antes do sol nascente, ficava deixava curioso pelo barulho das ondas na praia da Jaguaruna. Com o vento parado, o barulho era alto, e ao olharmos na linha do horizonte, a cerca de 5.5km da costa, avistávamos umas espumas reluzentes correndo. Sinal de que na laje as ondas estavam bombando.

A movimentação era grande na base da Atow Inj, na medida em que caminhonetas chegavam com alguns jets para reforço. João Baiuka chegara da praia do Cardoso com notícias de altas ondas por lá e bombando em seus “lives” no Instagram. Aliado a Luis Casagrande, que vem se especializando em resgate, e contando com o jet da Atow Inj, estávamos bem equipados. Além disso, uma lancha proveniente do porto da cidade de Laguna estava prevista para chegar ao outside às 7:40 da manhã.

Todos a postos à espera da lancha e o nascer do sol - que havia sido esplêndido - dava lugar a densas nuvens seguidas de uma brisa de maral. Mas a turma não desanimou, pois a previsão era boa e sempre depois de chuvas podem vir calmarias.

Na beira da praia, foi a vez de mais um fotógrafo videomaker junta-se ao grupo. Rafa Shot, como é conhecido, vem participando de muitas sessions com a turma da Atow Inj e já está se tornando um expert na laje da Jagua. Às 7:50, a lancha do Capitão Beto e seu “partner” Faust apontam no outside.

Não foi muito fácil atravessar a arrebentação nos jets com os equipamentos para documentação da session, pois as “pelican cases” do Renato Tinoco eram cada uma maior que a outra. As “caixas” eram seguras, mas havia ondas de 2.5 a 3 metros no beach break para serem ultrapassadas.

Deitado no “sled” e em cima de minha gun 9’6”, passei para o outside já com os antebraços doendo, pois o esquema era esse: os jets iam levando de um a um para todos se acomodarem na lancha e seguirmos por cerca de meia hora de navegação. Desta vez havia uma galera, pois além dos já citados, Galdino, André Luiz, Diego e Leo Lobato completavam a barca.
Tissot  Foto: James Thisted.

A chegada ao pico é sempre uma expectativa e normalmente observa-se o mar por algum tempo até que a session comece. Fabiano Tissot abre remando para o outside, quando a primeira série na esquerda entra. Neste momento, o sub capitão da lancha (Faust) dispara um foguetão para dar início e a turma fica em um mix de susto e risadas. Ficar em uma embarcação com ondulações oceânicas não é a melhor coisa pra quem mareia. Alguns tomaram Dramim, mas outros fizeram a mesma coisa que eu e partiram pra água.

Tissot, com sua 10’6”, posiciona-se no pico, e aproveitando sua leitura, fico mais abaixo com minha gun, quando João Baiuka entra com sua 10”4”. Luciano Burin teve parte de sua infância e adolescência na praia de Jaguaruna e me contou seu sonho de surfar a onda na remada. Até então ele só havia estado no outside para gravar imagens para seu documentário e aquela session era seu debut. Luciano entrou com uma 8’7”, sem colete flutuador, e ficando mais abaixo da turma das big guns. Aos poucos foi conseguindo pegar as ondas.

As séries estavam demoradas e por um momento pensamos que o swell não iria vingar. Mas depois da chuva, o vento parou e a máquina foi ligada de maneira espaçada. Rodrigo Dornelles entra no tow rebocado pelo embaixador do big surf na Jagua, o experiente  Thiago Jacaré . Aos poucos íamos vendo belas linhas sendo traçadas. O Pedra tem um estilo polido e tá com a manha do tow in. Foi legal de ver e nos empolgou. A única complicação era que misturar tow com remada necessita de atenção redobrada, mas nesse quesito a turma estava esperta.

Outra dupla em outro jet se aventura nas direitas - Luis Casagrande e  Carlos Peri -, e no terceiro jet ficava o fotógrafo Rafa Shot documentando a session de um ângulo diferente, pois James Thisted e Renato Tinoco iniciaram no barco.

As séries começaram a melhorar para a remada, quando Tissot e Baiuka pegam as primeiras boas. Ia prestando bem atenção no posicionamento deles pra que conseguisse pegar uma boa, pois até então não tinha conseguido entrar em uma parede legal. O mar ia ganhando corpo quando uma parede com cerca de 10 pés entra para o Tissot. O gaúcho rema com disposição em seu barco vermelho e vai embora. Drop irado e a galera vibra.

João Baiuka, mais enérgico, remava em mais ondas e consequentemente pegava mais. Deu bons drops, e um, em especial, sua prancha chegou a levitar duas vezes.

Em determinado momento melhorei meu posicionamento depois de prestar bastante atenção nesta dupla e fui recompensado com uma da serie. Ela entrou ainda mais ao fundo e já veio em minha direção com o lip espumado. Remei forte e fiz meu trajeto em direção ao inside fazendo curvas longas. Um bump quase me derruba em um momento que tentava fixar mais o pé na prancha devido à pouca parafina que havia passado. Mas ao final foi só alegria e agradecimento a essa galera que me colocou na rota do surf de ondas grandes do sul de Santa Catarina.

Seguindo a tradição da turma, comemorei, logicamente, em nome do pioneiro Zeca Sheffer (in memorian). O mar ficou em um mix de brisa de maral, terral e em alguns momentos de calmaria. Foram cerca de 6 horas de surf, rolando de tudo, e até um jet quebrado.

Nesse momento, Thiago Jacaré entra com sua gun Havengueira 10’3”, um espetáculo de prancha. Com algumas fortes braçadas, pega uma da série em um momento que cruzo em direção ao outside, vendo toda a ação de cima do lip. Mais uma grande onda surfada e o cara aparece lá no final da onda com a vibração da galera. Nessa mesma onda, Luciano Burin, que estava mais embaixo, passou um certo sufoco, pois ao tentar varar a onda decidiu soltar a prancha e por pouco não rola um acidente. Graças aos bons deuses, tudo certo.

Saio para repor energias e passar protetor solar, quando vejo Tissot vindo em uma das grandes. O “primão” é derrubado por um bump e capota lá embaixo. Mas valeu o take off e o registro clicado. Nessa, sua gun acaba sendo trincada ao meio, mesmo sendo um material reforçado. Aí é aquela coisa: o cara não usava leash e a lógica era que a prancha fosse arrastada sem quebrar. Mas não tem jeito quando uma massa de água daquela pega de jeito… Bom, no mínimo deu sorte de não ter partido ao meio, pois com um conserto e um reforço em carbono, vai agregar peso e vai é ficar melhor para dias de ventos fortes e de “bumps” nas faces das ondas.

Galdino, André Luiz, Diego e Leo Lobato também pegaram as ondas e se revezaram no tow in quando não estavam na remada, hora rebocando e hora sendo rebocados. O incansável Luis Casagrande, também conhecido com “Sapão”, me convida pra ser rebocado. Aproveito pra testar minha prancha de tow que havia shapeado no ano passado. O mar, neste momento, estava mais picado e acabei soltando a corda em momentos errados, fruto da minha inexperiência nesse outro segmento do esporte. Mesmo assim, deu pra ter as emoções e ver também que o equipamento funcionou, faltando apenas mais quilometragem para mais respaldos na evolução.
Thiago Jacaré  Foto: James Thisted.

Tão logo largo o tow, vejo algumas séries mais constantes e Burin pega uma grande com minha 9’6”. A galera vibrou, mas o bicho levou uma lipada no fim que deu pra sentir a força da Jagua. Pronto, batizado!

Jacaré e Baiuka se revezam em várias ondas e volto pra água. A maré ia enchendo e mudando a constância da ondulação. Baiuka e Jacaré pulam pro tow e fico no outside apenas com Galdino, quando uma série enorme entra. O amigo leva na lata da esquerda e acabo descendo um ladeirão pra direita. Tinoco estava na água, mas posicionado pra esquerda, e perdeu o take de meu drop. Mas a imagem ficou latente em minha memória. Pura emoção, pois por falta de conhecimento no pico, não sabia que tipo de laje iria brotar em minha frente. Adrenalina total.

A galera avista cardumes de peixes. Olhetes, acho que era este o nome da espécie. Fiquei vendo de longe a bagunça quando levantaram uma grande Tuna (atum). Neste momento, mais um foguetão fôra disparado. Fim da session e mais meia hora ate o lineup do beach break da Jagua.

Já na base da Atowinj, João Baiuka e Casagrande davam o trato nas máquinas (jets). Haja trampo! A brincadeira não é fácil, pois logística e muito tempo são gastos para a preparação de um dia de surfe na laje. Algumas geladas abertas e aquela foto tradicional da barca para posteridade. Próxima parada: Cardosão, no dia seguinte. Dale swell! 







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